O Brasil registra nove mortes por intoxicação de metanol após ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas. O estado de São Paulo lidera os registros de mortes com seis casos. Em seguida, aparecem Pernambuco (2) e Paraná (1). Os dados atualizados foram divulgados pelo Ministério da Saúde, no começo da noite de segunda-feira (20).
Outras sete mortes estão em investigação: 1 em São Paulo, 3 em Pernambuco, 1 no Mato Grosso do Sul, 1 em Minas Gerais e 1 no Paraná. Outras 27 notificações de óbitos foram descartadas.
O Brasil contabiliza 47 casos confirmados da intoxicação. O estado de São Paulo segue com o maior número de notificações, 38 casos, e 19 em investigação. Há casos confirmados em: Pernambuco (3), Paraná (5) e Rio Grande do Sul (1).
O País ainda investiga 57 registros suspeitos. Os casos estão distribuídos em São Paulo (19), Pernambuco (26), Rio de Janeiro (2), Piauí (3), Mato Grosso do Sul (1), Goiás (1), Paraná (1), Bahia (1), Minas Gerais (1) e Tocantins (1).
O que é o metanol
Metanol é nocivo para a saúde e pode causar vários sintomas. A exposição a quantidades significativas do produto pode resultar em náusea, vômito, dor de cabeça, visão turva, cegueira permanente, convulsões, coma, danos permanentes ao sistema nervoso ou morte. Em alguns casos, a substância costuma ser adicionada ilegalmente ao combustível como uma alternativa mais barata ao etanol.
Tomar pequenas quantidades pode causar intoxicação. Segundo especialistas, a toxicidade do metanol está relacionada à dose que você toma —e à forma como seu corpo lida com ela. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) alerta que cerca de 10 ml de metanol puro pode causar cegueira e 30 ml pode ser letal.
Metanol é um álcool líquido, incolor e também conhecido como álcool metílico. Embora semelhante ao etanol na aparência, o metanol não deve ser confundido com o álcool usado em bebidas.
Procura por análises
O número de produtores de cachaça que têm procurado a Universidade Federal de Lavras (UFLA) para realizar análises preventivas das bebidas cresceu de forma expressiva nas últimas semanas. Segundo a instituição, localizada na cidade mineira de mesmo nome, a demanda aumentou entre 70% e 80% após o início das investigações sobre casos de intoxicação por metanol registrados em outras regiões do país.
O laboratório da UFLA, referência nacional na área, está operando no limite da capacidade. Devido ao volume de amostras recebidas, inclusive do Ministério da Agricultura e Pecuária, a universidade informou que só voltará a aceitar novos materiais enviados por produtores da região a partir de dezembro.
A coordenadora do Centro de Referência de Análise de Qualidade de Cachaça, professora Maria das Graças Cardoso, explicou ao G1 que o trabalho de verificação é detalhado e segue normas do Ministério.
“Essas análises são feitas por cromatografia gasosa e permitem quantificar e qualificar o metanol com alta precisão. Nas nossas cachaças, o sinal da substância é muito pequeno, praticamente inexistente”, afirmou.
Ela destacou que pequenas quantidades de metanol podem surgir naturalmente no processo produtivo, mas que o problema está na adulteração.
“Na bebida adulterada, o metanol é adicionado propositalmente, misturado com álcool combustível. Como não tem cheiro nem cor, o consumidor não percebe”, disse.
De acordo com levantamentos da universidade, análises feitas entre 2024 e 2025 mostraram níveis mínimos de metanol nas cachaças nacionais, em média, 1,47 miligrama por 100 ml de álcool anidro, quantidade considerada segura. “O controle é simples: basta filtrar o caldo antes da fermentação e fazer corretamente os cortes da bebida”, completou a pesquisadora.