Duas operações realizadas pela Polícia Federal na região resultaram na apreensão de um arsenal de fuzis em Americana e até na descoberta de uma fábrica clandestina de armas em Santa Bárbara D’Oeste. Numa dessas ações foram ainda realizadas buscas em Paulínia e também em outras cidades da região.
Em Americana, na quinta-feira (21), o filho do empresário Eduardo Bazzana, preso em Americana após ser apontado como fornecedor de armas para a facção criminosa Comando Vermelho, seguiu com os negócios ilegais do pai desde a detenção em maio deste ano, segundo o Ministério Público (MP-SP).A EPTV confirmou que Eduardo Bazzana continua preso.
O sucessor dos negócios da família foi alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em uma operação conjunta com o 10º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), a Polícia Federal e Exército Brasileiro.
Durante as buscas, foram apreendidas 183 armas, incluindo 20 fuzis, em uma loja no bairro Santa Sofia, que já havia sido alvo de outra ação em maio, desencadeada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, na qual mais de 570 armas foram apreendidas.Ao todo, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão: dois em Americana, um em Paulínia e outro em Atibaia. Ninguém foi preso.
Segundo o MP-SP, o filho do empresário não foi denunciado e as investigações prosseguem. “Na residência do alvo principal, foram apreendidas duas armas de fogo, enquanto no clube de tiro foram encontrados armas, munições e acessórios que, de acordo com as autoridades responsáveis pela fiscalização presentes, estavam em situação irregular”, disse o MP-SP, em nota.
A polícia também descobriu um “bunker” secreto usado para armazenar parte do arsenal em uma loja em Americana. Segundo o major Michel Berber, o espaço só foi identificado graças à experiência de um policial. O bunker era acionado por um dispositivo eletrônico escondido sob uma mesa, que destravava a porta por meio de uma chave digital.
Operação Contenção
Em maio deste ano, Eduardo Bazzana foi uma das 10 pessoas presas durante a “Operação Contenção”. Segundo a polícia, foram encontradas mensagens com comprovantes de pagamento feitos por traficantes para o empresário. A investigação, que teve início há dois anos, revelou que o armamento seria usado no fortalecimento e em expansões territoriais da facção no Rio, inclusive na Zona Oeste da capital, e em outros estados. Um dos mandados foi cumprido no condomínio de luxo Novo Leblon, na Barra da Tijuca.
De acordo com as investigações, os criminosos chegavam a movimentar R$ 5 milhões em menos de um mês através de um esquema que operava em diversas comunidades do Rio e de outros estados.
À época da prisão, a defesa de Eduardo Bazzana afirmou que ele é inocente e que entraria com pedido de habeas corpus. Advogado do empresário, Rogério Duarte afirmou à EPTV, afiliada da TV Globo, que o cliente é íntegro e idôneo e jamais negociaria com facções. “Havia um intermediário do Rio de Janeiro, credenciado (com CR e registro de atirador), que comprava armas e munições legalmente, com autorização do Exército. Isso ocorreu duas ou três vezes, no máximo”, disse o defensor.
Fábrica em Santa Bárbara
Em outra operação da PF em conjunto com a PM, também na quinta, foi descoberta uma fábrica clandestina de fuzis AR-15, em Santa Bárbara d'Oeste. Foram apreendidas 80 armas e presas duas pessoas.Operação da PF apreendeu 80 armas e prendeu duas pessoas em flagrante por posse e comércio ilegal de arma de fogo. As penas podem chegar a 18 anos de prisão.As investigações apontam que os fuzis eram fornecidos para facções criminosas de São Paulo e Rio de Janeiro.
A fábrica tinha equipamentos milionários de alta precisão e peças resistentes, e fornecia a facções criminosas, diz a polícia.Além disso, falta saber quantas armas o grupo produziu e por quanto tempo, exatamente. Embora tivesse como fachada a produção de peças aeronáuticas, há seis meses a empresa produzia exclusivamente os fuzis, conforme as investigações.
Os dois suspeitos foram presos no bairro Novo Mundo, em Americana, segundo a Polícia Federal. A ação ocorreu enquanto a dupla descarregava peças usadas no armamento em uma casa. Um dos presos, de 38 anos, mora em Campinas, e o outro, de 33, é de São João da Boa Vista Conforme as investigações, eles eram responsáveis pela fabricação das armas.
No endereço da fábrica, indicada pelos suspeitos, foram encontradas máquinas, ferramentas e moldes usados na fabricação das armas. O local passou por perícia. A empresa tinha como fachada a produção de peças aeronáuticas mas, há pelo menos seis meses, produzia exclusivamente o armamento, diz a polícia. Foram apreendidas peças suficientes para produzir 80 fuzis. A contagem inicial apontou 40, mas o dado foi atualizado.
A Polícia Federal de Campinas já tinha apreendido fuzis fabricados no Brasil, mas feitos em impressoras 3D, com materiais plásticos. Não com partes metálicas, no padrão do fuzil AR-15, como os localizados. Conforme o delegado-geral da PF, Edson Geraldo de Souza, o processo de usinagem deixa o armamento mais "robusto e muito mais resistente".
No local, foi encontrada uma grande quantidade de equipamentos milionários com alta precisão e software necessário para produzir as peças para montar as armas. Essas peças eram produzidas por meio de usinagem, processo no qual a matéria-prima (metal) é esculpida para dar origem ao formato desejado.
A Polícia Federal informou que vai continuar as investigações para identificar outros possíveis envolvidos no crime. Também falta saber quem estava fornecendo material para a produção das armas. A PF ainda busca identificar os compradores e os destinos específicos.